segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fotografando a cidade: SQN 405

Tirei essas fotos no início da semana e ainda não tinha conseguido colocá-las aqui no blog! Esse tipo de post com muitas fotos dá um trabalho razoável. O post sobre a SQN 302 não me deixa mentir.

As quadras 400 não estavam previstas no plano inicial de Brasília. Diferentemente das quadras 100, 200 e 300 - cujo gabarito padrão é seis andares - as 400 são formadas por prédios de três andares, geralmente sobre pilotis (os prédios JK ou IAPI, construídos em algumas quadras da Asa Sul, têm primeiro andar térreo e fogem ao padrão do pilotis).

Diz a lenda que os prédios das 400 tiveram o gabarito reduzido para não tirar dos outros moradores a visão do lago Paranoá. Eles seguem o chamado padrão "econômico": geralmente sem garagem nem elevador, área privativa em torno de 50 a 70 m² (os de dois quartos) ou 65 a 90 m² (os de três quartos). Existem alguns quarto e sala, mas acho que a maior parte é 2/4 mesmo - às vezes com o "terceiro reversível". Vou falar sobre isso mais adiante.

A questão é: o preço de venda de um apartamento no Plano Piloto (não conto os lançamentos, que praticamente não existem) está em torno de R$8.000 a R$9.000 o metro quadrado. O resultado é que esses imóveis, que um dia foram considerados "econômicos", hoje têm um preço de venda bem pesado. Como a alta dos preços é algo recente (de uns 4 anos para cá), o perfil dos moradores é variado: novos moradores com renda média/alta, pioneiros/aposentados (muitas vezes com perda de rendimento depois da aposentadoria), os filhos desses pioneiros, etc.

As quadras 403, 404, 405 e 406 são as mais antigas da Asa Norte. Foram construídas pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC) entre 1957 e 1959. Os prédios, construídos pela empresa Capuá e Capuá, têm apartamentos de dois quartos mais um reversível. Peguei essas informações em [1] (no final do post).

Quanto à posição dos blocos a quadras 403 e 404 são simétricas, assim como a 405 e 406. Os conjuntos 403-404 e 405-406 têm o mesmo posicionamento de blocos e desenho de arruamento. São 16 blocos residenciais em cada quadra.

Então vamos às fotos! Elas ampliam se clicadas.

Na figura abaixo, a banca de jornal logo na entrada da quadra. O dono percebeu que eu estava fotografando e fez uma cara meio desconfiada. Ao fundo, a Escola Classe 405 Norte:
Estacionamento entre os blocos G e H, perto da entrequadra comercial. A arborização é típica das quadras mais antigas de Brasília:
Outra do mesmo estacionamento, com destaque para os equipamentos de ginástica e a quantidade de carros:
Uma questão polêmica é a dos carros abandonados que podem ser vistos em algumas quadras. Quem resolve: Detran ou Administração Regional? Discussão eterna:
Abaixo vemos a fachada posterior do bloco I e a lateral do bloco H. Destaque para as janelas: no bloco I, um morador do terceiro andar trocou as ventanas da área de serviço por uma janela de verdade (mais à frente eu comento sobre isso). Ambos os blocos têm janelas nas laterais. Não é à toa que o apartamento "perfeito" dos anúncios de imóveis é "meio de quadra" (porque não pega o barulho do comércio), nascente, "de canto"... os apartamentos "de canto" (ou seja, na ponta do bloco) têm maior perímetro livre e mais opções de ventilação natural. Nas outras unidades, os banheiros ficam no meio do apê e a ventilação não tem saída externa - muitas vezes o jeito é usar um exaustor.
 Abaixo, a fachada principal do bloco F. Reparem no revestimento das portarias, em mármore (típico dos prédios mais antigos) e nas pilastras cilíndricas; quase todos os outros blocos tiveram esse detalhe alterado nas reformas seguintes:
Parque infantil em frente ao bloco J:
Escola:
Tirei duas fotos e, quando estava me afastando, uma aluna - devia ter seus 12 anos - gritou: "tira mais uma!". Fiquei sem graça e perguntei se ela queria que eu tirasse uma foto dela. Fez pose e me passou o e-mail da professora para que eu mandasse o arquivo depois, o que acabei fazendo. Uma figura! Essas fotos foram tiradas perto do meio-dia e alguns alunos estavam esperando depois da aula.

Na foto abaixo, detalhe do bloco J. Esse e o bloco C são assim, em desnível. Só vi isso na SQN 403 e SQN 405.
Mais uma do bloco J:
Olha quem eu vejo saindo do bueiro enquanto estou fotografando o bloco J:
Esse serzinho ficou na maior pose. Andou um pouco, sentou-se de novo... pela atitude vigilante e pela barriga um pouco distendida, fiquei pensando se não seria uma gata parida - mas não ouvi nenhum barulho de gatinho novo. Tentei alguns contatos para ver castração, adoção... sem resultados por enquanto.

Agora o bloco D, com reforma recente. Reparem nos toldos em algumas janelas, além da arborização "misturada": árvores antigas dividem espaço com palmeiras, que certamente foram plantadas há bem menos tempo e pelo pessoal do próprio condomínio:
Outro parquinho. Vemos a fachada posterior do bloco E (à direita) e a fachada principal do bloco C da SQN 406. O arruamento dessas quadras tem uma característica interessante: a rua de entrada, comum às duas quadras, se subdivide e não vai até perto da L2. Quando fui tirar essa foto, eu já não sabia em que quadra estava. Tive que olhar as placas. Imagino a confusão para os carteiros...
Quadra poliesportiva em frente ao parquinho da foto anterior:
Calçada com piso tátil ligando o parquinho/quadra de esportes à rua em frente ao bloco J. Estava em obras quando cheguei para tirar as fotos:
A seguir, a fachada posterior do bloco E. É comum, nesses blocos, os proprietários abrirem janelões. Confesso que uma coisa que sempre me deu implicância no projeto original dessas quadras são justamente as ventanas minúsculas. Imagine estender e passar roupa, cozinhar, etc, num ambiente escuro e sem ventilação natural? Como dormir no tal "quarto reversível" sem uma janela de verdade? Felizmente a solução adotada na maior parte dos outros projetos das outras quadras - os cobogós - é bem mais prática.
Realmente as fachadas despadronizadas ficam bem feiosas; mas, se o projeto original não oferece boa qualidade de vida, fazer o quê? Aí vem a tentação de reformar os apartamentos, criando janelões. O problema? Você vê na atualização no final do post.

O tronco dessa árvore tem uns 80cm de diâmetro:
Outro detalhe da arborização:
Central telefônica (acho que é!) em frente ao bloco Q:
Outro ângulo:
Este foi o passeio na SQN 405. Por enquanto postei só fotos do Plano Piloto que, afinal, é onde trabalho e passo a maior parte do dia durante a semana. Espero ter oportunidade de registrar outros lugares. Lembrando que se alguém quiser as fotos sem marca d'água, é só pedir pelo e-mail do blog.

[1]: FERREIRA, Marcílio Mendes & GOROVITZ, Matheus. A invenção da superquadra. Brasília: IPHAN, 2008.

Atualização (27/10/2012): Saiu na capa do Correio de hoje (clique e aumente):
 

Pois é: os prédios dessas quadras têm paredes com função estrutural - informação que, por sinal, consta no livro do Marcílio Ferreira e Matheus Gorovitz. Essas quadras foram planejadas para um pessoal de bolso não tão cheio e aí entram as técnicas para baratear a construção. 

Só que os antigos moradores seguiram um desses caminhos: ou melhoraram a condição financeira ou foram expulsos pela lei do mercado e substituídos por moradores de bolsos mais recheados. É a gentrificação, que citei no post sobre a 302. De um jeito ou de outro, o pessoal quer melhorar os apês. Nas pesquisas para atualizar este post, cheguei a ver um projeto de reforma no site de um escritório de arquitetura e adivinhem: derrubada de paredes num apartamento numa dessas quadras. :-/

Espero que tudo seja resolvido da melhor forma e nenhuma tragédia aconteça - como o desabamento dos prédios no centro do Rio, que ocorreu ainda este ano.

4 comentários:

  1. nasci e cresci na 405 norte. me mudei em 2005.aquela foto que vc estava se referindo , se era 405 ou 406 na verdade é 405 norte. A qd 406 começa no Bloco C. Apesar que tinha outro Bloco C simetricamete na mesma distância e o Bloco E no meio que invadia um pedaço da qd 406 norte.daí a confusão.

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    1. Oi, Luana, bem vinda! É verdade... vi umas "invasões" de blocos (o limite da quadra não é uma linha reta, como acontece em outras quadras) e realmente fica confuso. Pretendo passar lá para tirar outras fotos (da ciclovia, por exemplo, que não existia quando escrevi esse post) e dar uma atualizada/corrigida por aqui. :-)

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  2. Nasci e cresci na 406 norte. Depois, por razões financeiras, nos fixamos na 712. Adorei o post e a variedade de informações. São detalhes q reparamos, mas as vezes não entendemos as razões. Saudades das sibipirunas das 400 e das cigarras!

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    1. Obrigada, Felipe!
      Vejo que vários ex-moradores gostam de matar as saudades nesses posts. Depois veio o Google Street View, que ajuda quem quer visualizar. Mas para sentir a vibe do local, só estando lá!

      Plantaram ipês brancos na L2, na altura da 403, o que deu uma nova cara ao local. Pena que durem pouco!

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